A Caminhada Quaresma-Páscoa, que agora apresentamos, integra-se na pedagogia de ação pastoral que desejamos implementar na nossa Diocese e que o Plano Diocesano de Pastoral 2015/2020 nos propõe, para motivar todos os agentes de pastoral, mobilizar as comunidades cristãs e fortalecer o sentido de que somos uma só Igreja. Desejamos, assim, neste Ano Jubilar e, particularmente neste tempo da quaresma e da páscoa, “valorizar a formação sobre as obras de misericórdia, traduzidas e concretizadas, para hoje, em resposta às exigências do nosso tempo e aos desafios das novas formas de pobreza” (PDP, 2015, p.31).
Na Carta Pastoral “Felizes os misericordiosos” que, a 3 de dezembro de 2015, poucos dias antes da abertura do Ano Santo da Misericórdia, dirigimos à Diocese, lembrávamos que o Papa Francisco retomou (MV15) o elenco clássico das obras de misericórdia corporais e espirituais (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2447) e convidou-nos a refletir sobre o seu alcance como maneira de “acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina” (MV 15).
Com esta Caminhada, queremos corresponder a este desejo do Papa Francisco, que nos pede insistentemente para redescobrir e realizar as obras de misericórdia corporais e espirituais.
No evangelho de Mateus, capítulo 25, Jesus abre o coração e a inteligência dos discípulos e apresenta-lhes as obras de misericórdia, como critério incontornável de santidade e condição irrenunciável de bem-aventurança e de recompensa eterna.
Para ajudar os discípulos a compreender que as bem-aventuranças são possíveis e que as obras de misericórdia são necessárias, Jesus diz-lhes em parábolas que a felicidade está ao seu alcance e que Deus se excede em amor e em misericórdia a exemplo do pai diante do filho pródigo, do pastor na procura da ovelha extraviada, da mãe de família na busca da moeda perdida, do publicano humilde que entra no templo e regressa reconciliado, do mesmo modo com que corrige a atitude errada do servo perdoado na sua grande dívida mas sem capacidade de compaixão para perdoar a quem pouco lhe deve (cf. MV 9).
As parábolas são a tradução, no quotidiano da nossa vida, das bem-aventuranças do evangelho e revelam, no terreno concreto da humanidade, como Deus dá rosto e voz às obras de misericórdia. “A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-se responsável por nós, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos (MV 9).
Devemos todos, particularmente neste Ano santo da Misericórdia, dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, cuidar dos enfermos, assistir os presos, sepultar os mortos, dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo e rezar a Deus pelos vivos e defuntos (cf. Mt 25).
Ao abrirmos a porta santa da Catedral do Porto e as portas da misericórdia das Igrejas Jubilares da Diocese estávamos a tocar a grande porta da misericórdia do coração de Deus. Essas portas acolhem os nossos pecados, recebem o nosso arrependimento e devolvem-nos em abundância a graça e o perdão de Deus, através da celebração do sacramento da reconciliação e da realização das obras de misericórdia. Há portas santas que só o sacramento da reconciliação abre e tantas outras que as obras de misericórdia podem abrir aos que vêm de perto e aos que estão longe da Igreja.
Convidamos toda a Diocese a viver esta Caminhada centrada nas obras de misericórdia, dando tempo à formação e à mobilização de todos para a sua prática. É lema desta Caminhada: “Pratica a misericórdia, com alegria!” (Rom 12,8).
“Praticar a misericórdia com alegria” implica valorizar a celebração do sacramento da reconciliação, sobretudo nas Igrejas jubilares, onde haja disponibilidade de horários ampliados de acolhimento e presença de pessoas que possam ir ao encontro de todos.
“Praticar a misericórdia com alegria” deve abrir caminho, despertar criativamente novas iniciativas e desenvolver projectos concretos que nos levem ao encontro de todos quantos vivem situações ou momentos de pobreza física e económica e de pobreza cultural, social ou religiosa. “A misericórdia é a arquitrave que suporta a vida da igreja. A credibilidade da igreja passa por aqui. O perdão é uma força que ressuscita para a nossa vida nova e infunde coragem para olhar o futuro com esperança”, afirma o papa Francisco (cf. MV n.º 10).
Desenvolve-se a presente Caminhada Quaresma-Páscoa deste Ano jubilar na nossa Diocese, em tempo marcado por abençoados acontecimentos, que devem ser oportunidade para anunciarmos, com acrescido encanto, a alegria do Evangelho, para sentirmos a presença mais próxima de Maria, Mãe de Misericórdia, e para darmos graças pelo dom da ordenação de um novo bispo para o serviço da Igreja do Porto.
Assim, a Virgem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, presente entre nós de 10 de abril a 1 de maio neste caminho comum que envolve e mobiliza a nossa Diocese e todas as dioceses de Portugal, decididas a aprender na escola da Mãe a seguir Jesus, vai ajudar-nos, como ninguém, a “praticar a misericórdia com alegria”. Serão diversas as iniciativas que nessa ocasião darão rosto de misericórdia a esta presença de Nossa Senhora de Fátima junto dos doentes, dos frágeis, dos reclusos e dos sem-abrigo.
Convocamos, desde já e com muita alegria, os sacerdotes, diáconos, consagrados e leigos para vivermos como hora de graça e de bênção de Deus a ordenação episcopal de D. António Augusto de Oliveira Azevedo, nomeado Bispo Auxiliar do Porto. A celebração da ordenação terá lugar no próximo dia 19 de março, solenidade de S. José, às 15, 30 horas, na Sé Catedral. D. António Augusto é dom e bênção de Deus concedidos à Igreja e vai ajudar-nos pelo seu ministério episcopal a praticar a misericórdia com alegria, fazendo nosso o seu lema: “cantarei eternamente a misericórdia do Senhor” (sal 89).
A Caminhada da Quaresma-Páscoa dirige os nossos passos para a celebração do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Compreende-se, por isso, que façamos da cruz o sinal maior e o símbolo expressivo desta Caminhada da Quaresma-Páscoa, 2016. É na Páscoa que mais e melhor resplandece o rosto da misericórdia divina, que é Cristo, crucificado e ressuscitado.
A partir da Páscoa e, impelidos pela alegria da ressurreição de Jesus e com o olhar do coração voltado para a cruz florida da Páscoa, sentir-nos-emos discípulos missionários de Jesus enviados a anunciar a “Alegria do Evangelho, nossa missão” e a proclamar: “Felizes os misericordiosos!”
Porto, 20 de janeiro de 2016
António Francisco dos Santos, Bispo do Porto
António Bessa Taipa, Bispo Auxiliar do Porto
Pio Alves de Sousa, Bispo auxiliar do Porto
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